lunes, abril 03, 2006

Epifania

Vou ao banheiro. Me olho no espelho. Que asco! Hoje vou embora. Estou cansada dessa vidinha medíocre, insossa, dos dias mornos, do beijo insípido, do sexo sem alma. Estou cansada de toda essa merda, a inércia que consome meus dias, o controle da televisão, os sapatos no hall de entrada, o escuro do sofá azul, aquela cara moribunda, esperando tudo e nada. A acomodação. Hoje vou embora. Faço minhas malas, apenas duas. Pego o mais importante, algumas blusas, calças, levo todas as tangas e sutiãs, alguns livros, maquiagem e meias. Dois pares de sapato, e só. Acho que vai caber. Aí eu me mando. Quando ele chegar, com aquele papo moroso, já vou estar na porta, com as malas, pronta para o último adeus. Ah, eu trocaria você até por mil noites de solidão, de escuro e vazio. Fica aí com a sua roupa bem lavada, sua comida sem sal, a falta de interesse por tudo que não seja futebol. Não fico mais. Sua mesmice, sua falta de brilho e sabor. Por quê eu perdi todo este tempo? Você deveria ser castigado por isso. Arsênico. Um pouco de arsênico na sua salada pálida. Uma dose exata, mortífera. O corpo se debatería no chão, sufocado, sentindo a maior emoção da tua vida. Ninguém iria desconfiar. Até que encontrassem você apodrecido, sem um único suspiro de vida. Os resquícios de veneno já haveríam sumido. "Foi o tomate estragado", diria alguém. Eu iria ao seu enterro, só para encher tua tumba de rosas vermelhas e vivas e cheias de sangue. E depois, ainda de negro-viúva, iria encontrar o Fulano, aquele que me devora com o olhar toda vez que você não está. Aí sim, ia saciar meu cio, que está seco desde... O ruído da chave na porta. A porta se abre. Ele entra.
- Oi, cheguei.
- Oi, tudo bom?
- Tudo, como foi seu dia?
- Bem, normal.
- Você já jantou?
- Já, comi um sanduíche na rua.
- Eu vou jantar então.
- Tá, e eu vou dormir.
- Boa noite.
- Boa noite. (Beijo suave na boca)
- Não esquece de desligar o gás.
- Pode deixar.
Me deito. Me cubro. Fecho os olhos. Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, Amém. Pai Nosso que estáis no céu...

7 Comments:

Blogger Pablo said...

No se entiende nada ¿dónde está el bilingüismo?

Quedamos a la espera de que nos traduzcas esto.

8:12 p. m.  
Blogger Hölderlin said...

Que sí se entiende, que sí. Es tierno, sentido, sincero. Lo mejor es que se comprende aún más de lo que las palabras solas dicen. Esa es la magia del lenguaje: transmitir ese plus que encierra lo escrito y que desvela lo tácito. Un abrazo enorme, ventrílocua. Que tenemos que hablar de muchas cosas, compañera...

2:10 a. m.  
Blogger Mr. Kaplan said...

Como le dije a Pater en su post alemán:
Ronaldo nazario da lima sabrosa gustosa farina madeira copacabana ipanema corcovado caipirinha capoeira venga la penga

12:58 p. m.  
Blogger Mr. Kaplan said...

Dicho lo cual, percibo algo del sentimiento del que habla hölderlin, pero mi comprensión es bastante menos limitada que la suya. Curioso comprender cosas que se supone que no puedes comprender.

1:01 p. m.  
Blogger Pablo said...

Esta bien, se entiende, aunque requiere de un esfuerzo adicional que para las épocas en las que estamos...

Bonito texto... pero no te nos vayas ¡aguanta!

1:01 p. m.  
Blogger Nun says said...

Okok. Próximo post en castellano, malo y pobre, pero comprensible.

1:05 p. m.  
Blogger Antonio said...

Di que no! en portugués está mucho mejor y se entiende relativamente bien. Tanto español, tanto español...

Me acuerdo que estuve en Portugal con 3 años y aún recuerdo una perífrasis: perna de pau, el nombre de un helado. No sé ni a qué sabía pero el nombre es indeleble. Obrigado pela attençao, si está mal me da igual

1:11 p. m.  

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